O Olho da Sabedoria

Parte I - Monja Kokai

O que vou escrever é muito, muito especial. São ensinamentos que podem mudar sua vida. Elevá-los a um outro nível de compreensão e consciência  sobre a vida e o viver. Se você colocar em prática alguns desses ensinamentos,  é possível que você se torne mais focado, mais presente no aqui e agora, passe a sofrer menos pois terá desenvolvido meios hábeis para lidar com as adversidades e surpresas da vida. Passará a ter menos medo e mais disposição e confiança para acolher as incertezas e um voto de deixar-se seguir num fluxo harmônico com a  existência. Você estará desenvolvendo o terceiro olho – A sabedoria.

 

I

 

Os ensinamentos que irei escrever não  foram inventados por mim e sim por Xaquiamuni Buda. Na verdade ele também não inventou nada. Ele tão somente ampliou a consciência a um nível tão intenso e profundo e fez contato com verdades inscritas nas profundezas da psique , nos arquétipos da estrutura mental, princípios que regem a vida humana, assim como leis da vida e da existência,  que por ele foram acessadas e transformadas em ensinamentos.

O nascimento daquele que veio a receber o título de Buda – o desperto, aconteceu no ano Buda 584 a.C, numa localidade ao norte da India, hoje Nepal. Ele foi muito esperado e desejado sendo que os pais, o Rei Sudodana e a rainha Maya há muito desejavam um herdeiro para o trono. A rainha Maya teve complicações após o parto e veio a morrer uma semana depois do nascimento do príncipe. O rei então se  casa com a irmã da falecida rainha,  tia do bebê Sidarta, Mahaprajnapati, que foi quem  o criou. Mais tarde ela veio a ser a primeira monja histórica. Sidarta foi criado com todos os luxos e confortos da época, e desde pequeno era um menino sensível e observador. Quando nasceu, os oráculos fizeram a previsão de ele seria um grande líder, talvez espiritual. Como seu pai queria que ele fosse seu sucessor, buscou educa-lo nas artes marciais e de governança, afinal, eram da casta dos Xátrias (guerreiros e governantes). Sua formação deveria prepará-lo para suceder o pai, Sudodana, o rei dos Shákias.  

Esse filho seguiu os preceitos paternos, casou-se com a escolhida do reino, uma prima chamada Iasodara. Tiveram um filho chamado Rahula e, quando este tinha 1 aninho de idade, Sidarta renuncia à vida palaciana e vai para a floresta ter vida de asceta. 

Essa decisão não foi tomada de uma hora para outra. Apesar do pai tentar limitar a vida do filho às paredes do castelo, assim que ele foi despertando para a curiosidade sobre como eram as coisas fora dali, ele saiu algumas vezes escondido, levando somente consigo o seu atendente pessoal. 

Tem-se conhecimento de quatro saídas que foram decisivas para sua decisão :

Na primeira saída  ele ficou impactado com a pobreza e a miséria em que viviam as pessoas . Além disso percebeu que esta deteriorização se devia a velhice, e quando os cuidados básicos de saúde e de higiene eram precários, essa miséria acentuava o aspecto inevitável de envelhecer; 

Na segunda saída tomou conhecimento das doenças e debilidades, principalmente a hanseníase, doença  muito comum na época; 

Na terceira saída fez contato com a morte quando viu corpos sendo cremados;

Podemos imaginar o impacto de tudo isto numa pessoa boa e sensível, que fora criado para não ter que se preocupar com a vida sofrida da maioria das pessoas? Que onde pisava era recebido com tapetes, joias, boa comida, teatro, dança, música, lindas mulheres? Desse contraste ficou a percepção clara da quantidade de sofrimento que havia entre os seres vivos. Isto passou a ser o objeto de reflexão daquele jovem. Na quarta saída do palácio ele conheceu os iogues, os monges mendicantes, que apesar da vida em ascetismo e penúria, demonstravam uma expressão serena e de paz mental. Ou seja, apesar das privações é possível acessar a paz, sendo esta uma maneira de transcender o sofrimento. A partir daí ele tomou para si a tarefa de compreender a dor e sofrimento. O porquê do sofrimento, suas causas e, talvez formas de superação.

Esse propósito lhe deu força e coragem para contrariar a vontade paterna, que tanto amava. Sabe-se que ele pediu a benção do pai mas que este não conseguia entender a necessidade do filho. Sidarta ficou em pé, por dias, até que o pai o abençoasse. Certa noite, enquanto todos dormiam pesadamente após uma festa no palácio , ele sai do palácio com seu cavalo Kanthaka, seguido pelo seu atendente Chana. Quando chegam na floresta, ele confiou  seu cavalo e suas joias ao atendente, pedindo que este voltasse para o palácio. Assim que ficou sozinho, despiu-se de suas roupas elegantes e caras,  cortou seus  cabelos compridos e bem cuidados, símbolo da casta dos nobres e guerreiros. Adentrou a floresta e deu início a sua vida de monge retirante, –  saramanas –  uma jornada de seis anos ,  onde as privações e o ascetismo vão marcar esta fase de vida.

 

Thich Nhat Hanh. Velho Caminho, Nuvens Brancas-Seguindo as Pegadas do Buda. Segunda Edição. São Francisco de Paula, Ed. Bodigaya,2013.

 

 

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